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Ainda em processo de recuperação da ressaca de tristeza provocada pela despedida de Carlos Reichenbach, agora os cinéfilos são pegos de surpresa com a morte do grande Jorge Timm. É inevitável a sensação de desconforto quando um blogue destinado a divulgar o cinema alternativo se transforma num obituário de pessoas queridas. O cinema underground brasileiro ficará mais sisudo sem a presença de Jorge Timm! Figura habitual nos filmes da Canibal Produções, Timm marcou presença em pequenas pérolas do cinema de baixo orçamento com seus personagens bizarros e bonachões. Suas performances hilárias em produções como “O Monstro Legume do Espaço”, “Eles Comem Sua Carne”, “Zombio”, “O Doce Avanço da Faca”, e no famigerado e polêmico curta “Boi Bom”, o transformaram num ícone da cultura “trash” brasileira. Ironicamente tive o prazer de trabalhar alguns dias com Jorge Timm num filme intitulado “Ninguém Deve Morrer”, e desta experiência fica o registro da diversão, regada com a boa conversa e muitas gargalhadas. Adeus Timm!
Carlos Reichenbach partiu, ironicamente, no mesmo dia em que chegou ao mundo. Mas com ele as coisas não poderiam ser simples, precisavam conter este elemento desestabilizador, nem que fosse um pequeno detalhe como a coincidência do nascimento e da morte, algo digno de um artifício cinematográfico. O cinema brasileiro perde o cineasta ímpar Carlos Reichenbach, mas quem teve o prazer de conhecer a figura humana além da persona pública, perde o Carlão.
Carlão Reichenbach era uma figura generosa, rara, e despido de pudores e preconceitos foi um batalhador incansável de um cinema brasileiro que teima em se cansar facilmente, um incentivador corajoso de novos talentos e novos olhares. Era um cinéfilo perspicaz que poderia ficar horas debatendo sobre cinema com paixão e fúria, ouvindo e argumentando, dividindo seu vasto conhecimento para quem estivesse disposto a ouvir. Devido a essa paixão conseguiu agregar, incentivar e influenciar uma gama de jovens realizadores e críticos, entre os quais me incluo. No começo da década passada a lista de discussão de cinema “Canibal Holocausto” (do amigo Thomaz Albornoz) era um ponto de referência para jovens com pretensões cinematográficas, e lá estava Carlão, um diretor canônico, debatendo humildemente com um bando de garotos entusiasmados.
“Em O Poderoso Chefão, Gordon Willis atingiu o preto absoluto! Gordon Willis é o único diretor de fotografia que conseguiu de forma genial o PRETO ABSOLUTO!” , gritava Carlão numa mesa de bar numa noite que entre um gole e outro eu tomava grandes lições sobre cinema.
Adeus Carlão! Obrigado por sua obra, por sua generosidade, e por ter me proporcionado numa mesa de bar uma das melhores aulas de cinema que tive em minha vida! Viva a sua alma corsária!
Carlão e eu durante a exibição de seu filme “Lilian M: Relatório Confidencial” na edição comemorativa número 100 do Projeto Raros.
FILMOGRAFIA:
2007 Falsa Loura
2004 Bens Confiscados
2003 Garotas do ABC
2002 Equilíbrio e Graça (short)
1999 Dois Córregos – Verdades Submersas no Tempo
1994 Olhar e Sensação (short)
1993 Alma Corsária
1990 City Life (documentary) (segment “Desordem em Progresso”)
1987 Anjos do Arrabalde
1986 Filme Demência
1984 Extremos do Prazer
1982 Amor, Palavra Prostituta
1982 As Safadas (segment “Rainha do Fliperama”)
1981 O Império do Desejo
1979 Sede de Amar
1979 AIlha dos Prazeres Proibidos
1975 Lilian M.: Relatório Confidencial
1972 Corrida em Busca do Amor
1971 O Paraíso Proibido
1970 Audácia (segments “Prólogo” and “Badaladíssima dos Trópicos X Os Picaretas do Sexo, A”)
1968 As Libertinas (segment “Alice”)
1968 Esta Rua Tão Augusta (documentary short)
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Última aparição nas telas como o violento policial de "A Encarnação do Demônio" (2008), de José Mojica Marins.
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