Arquivo do mês: junho 2013

CICLO DE FAROESTES POLÍTICOS NA SALA P. F. GASTAL

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Quando Explode a Vingança, de Sergio Leone

Em sintonia com as recentes manifestações que tomaram as ruas da cidade nas últimas semanas, a Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar) exibe entre os dias 2 e 14 de julho a mostra Westerns Políticos, reunindo faroestes que trazem à tona questões políticas a partir de diferentes olhares.
São muitos os conflitos e as revoluções retratados nas incursões abertamente políticas do gênero, em narrativas que questionam as figuras heróicas do imaginário norte-americano e rompem com o maniqueísmo clássico presente nas obras mais tradicionais. De grandes nomes de Hollywood, serão exibidos, entre outros, Vera Cruz, de Robert Aldrich, um dos pais do faroeste moderno, Viva Zapata!, de Elia Kazan, com Marlon Brando vivendo o emblemático líder revolucionário mexicano, e o último western de John Ford – o principal mestre do gênero –, Crepúsculo de uma Raça, espécie de acerto de contas pessoal com os índios, personagens frequentemente retratados como desordeiros violentos em obras clássicas daquele universo – incluindo muitas do próprio Ford.
Por mais que boa parte dos westerns discorra sobre fatos históricos norte-americanos – ou de suas fronteiras mexicanas –, tais narrativas muitas vezes refletem turbulências políticas contemporâneas às suas realizações. É o caso do cultuado Quando Explode a Vingança, de Sergio Leone, outro destaque do ciclo, que aborda as conseqüências das rebeliões europeias de 1968 mesmo tendo como tema a revolução mexicana do início do século XX.
O zapata western, vertente extremamente politizada do western spaghetti com suas jornadas violentas sobre guerrilheiros e separatistas, também ganha destaque no ciclo. Além da obra-prima de Leone, serão exibidos Uma Bala para o General, um dos primeiros filmes do renomado cineasta Damiano Damiani, e o clássico Vamos Matar, Companheiros!, de Sergio Corbucci, mestre do cinema de gênero italiano recentemente homenageado por Quentin Tarantino em Django Livre.
O ciclo também exibe alguns dos faroestes que promoveram revoluções importantes dentro dos paradigmas do gênero, como Meu Ódio Será Sua Herança, de Sam Peckinpah, que elevou o nível de sordidez e violência a um patamar poucas vezes visto, El Topo, incursão surrealista do chileno Alejandro Jodorowsky aos desertos do oeste, e Jogos e Trapaças – Quando os Homens São Homens, de Robert Altman, que, apoiado pela música de Leonard Cohen, insere uma poderosa carga metafísica aos dramas de seus personagens.

A mostra Westerns Políticos tem o apoio da distribuidora MPLC, e pode ser conferida em três sessões diárias.

PROGRAMAÇÃO

Céu Amarelo (Yellow Sky), de William A. Wellman (EUA, 1948, 97 minutos)
Um dos mais sombrios e instigantes faroestes tem como tema as cidades-fantasmas. Em 1867, bandoleiros assaltam um banco em Rameyville e são perseguidos pela cavalaria do exército, o que os obriga a fugir para o deserto. Quase mortos pelo calor e falta d’água, eles chegam a uma localidade isolada, mas perdem as esperanças quando percebem tratar-se de uma cidade abandonada. Exibição em Blu-ray.

Viva Zapata! (Viva Zapata!), de Elia Kazan (EUA, 1952, 113 minutos)
Em 1909, no México, um grupo de lavradores vai até o presidente, afirmando que suas terras foram roubadas, mas um deles (Marlon Brando) deixa claro que o governo não pretende fazer nada por eles. Este lavrador acaba se tornando o lendário guerrilheiro Emiliano Zapata, que por vários anos teve importância política na vida do país. Exibição em DVD.

Vera Cruz (Vera Cruz), de Robert Aldrich (EUA, 1954, 94 minutos)
Por volta de 1860, ao escoltarem uma condessa até Vera Cruz, dois aventureiros americanos, interpretados pelos astros Gary Cooper e Burt Lancaster, involuntariamente se envolvem com a derrubada do imperador mexicano Maximiliano. Cultuado por nomes do Sergio Leone e Sam Peckinpah, o filme de Aldrich acena a paternidade do faroeste moderno ao romper de vez com os maniqueísmos do gênero. Exibição em Blu-ray.

Crepúsculo de uma Raça (Cheyenne Autumn), de John Ford (EUA, 1964, 156 minutos)
Em 1878, o governo deixa de entregar os suprimentos necessários à tribo indígena Cheyenne, como prevê um tratado assinado pelos governantes. Famintos e descontentes, mais de 300 índios decidem sair da reserva em Oklahoma numa jornada ao Wyoming, o local original onde sempre viveram. Thomas Archer, Capitão da Cavalaria Americana, é designado para a missão de conter os índios e evitar a viagem. Mas durante o percurso o oficial passa a respeitar a coragem dos índios e decide ajudá-los. É a despedida de John Ford ao lendário Monument Valley. Exibição em DVD.

Uma Bala para o General (El Chuncho, Quien Sabe?), de Damiano Damiani (Itália, 1966, 135 minutos)
Durante a Revolução Mexicana, um jovem americano misterioso se une a um grupo de saqueadores liderados por El Chucho. A partir daí, iniciam uma série de ataques selvagens para roubar armas para um general rebelde. Mas quando o Gringo resolve colocar em prática seus ideais juntamente com o grupo de bandidos, El Chucho descobre que as verdadeiras armas de guerra não pertencem a nenhum exército. Numa terra devastada pela pobreza e violência, será possível comprar a liberdade com uma única bala? Exibição em DVD.

Os Profissionais (The Professionals), de Richard Brooks (EUA, 1966, 117 minutos)
Em 1917 um rico rancheiro, J.W. Grant (Ralph Bellamy), contrata três mercenários, Henry “Rico” Farden (Lee Marvin), Hans Ehrengard (Robert Ryan) e Jacob Sharp (Woody Strode), para resgatar sua esposa Maria (Claudia Cardinale), que foi ao México e acabou sendo raptada por Jesus Raza (Jack Palance) e seu bando. Exibição em Blu-ray

Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch), de Sam Peckinpah (EUA, 1969, 145 minutos)
A história se passa em 1913, no auge da Revolução Mexicana. Os Wild Bunch são os foras-da-lei mais perigosos que o Oeste já viu. Mas a cada novo golpe, as chances de algo dar errado vêm aumentando, o que faz com que eles decidam encerrar as atuações. Só que um trem carregado de armas é uma remessa valiosa demais para passar despercebida pelos ladrões aposentados. Exibição em DVD.

El Topo (El Topo), de Alejandro Jodorowsky (México, 1970, 125 minutos)
Envolto numa roupagem alegórica e repleto de simbolismos cifrados, o filme narra as andanças de um pistoleiro místico (El Topo), interpretado pelo próprio Alejandro Jodorowsky, através do deserto do distante Oeste, numa epopéia surrealista na qual ele se supera em duelos para conseguir atribuir-se o êxito de ser a pistola mais rápida do Oeste. Um encontro cósmico profundamente influenciado pelas obras pânicas, este filme foi o tiro de saída do circuito alternativo das Sessões Malditas em Nova Iorque, propulsado pelo distribuidor Bem Barenholtz, que descobriu o filme graças a John Lennon e Yoko Ono.

Vamos Matar, Companheiros! (Vamos a Matar, Compañeros), de Sergio Corbucci (Itália, 1970, 118 minutos)
O contrabandista de armas Yolaf Peterson (Franco Nero) planeja fazer uma venda para o guerrilheiro Mongo (Francisco Bódalo), mas o dinheiro está trancado num cofre no banco e somente o Professor Xantos (Fernando Rey), um prisioneiro dos americanos, sabe a combinação. Yolaf concorda em soltar Xantos, acompanhado pelo relutante guerrilheiro Basco, mas um antigo parceiro de negócios de Yolaf, John “Mão-de-Madeira” (Jack Palance), tem outras idéias. Este faroeste político de Corbucci é uma das obras-primas do western spaghetti. Exibição em DVD.

O Pequeno Grande Homem (Little Big Man), de Arthur Penn (EUA, 1970, 139 minutos)
Aos 121 anos, Jack Crabb (Dustin Hoffman) conta num hospital a história de sua vida entre os índios Sioux. Sua indefinição racial provoca graves problemas de identidade, já que o homem não se integra com os brancos e nem com os índios. Ele aprende a ser guerreiro com o seu avô adotivo, Chefe Velha Pele Curtida (Chief Dan George); o pecado da carne com sua mãe adotiva e mulher do Reverendo (Faye Dunaway); o valor da amizade com o pistoleiro Wild Bill Hicock (Jeff Corey) e a odiar com o General Custer (Richard Mulligan). Dos filmes mais importantes da Nova Hollywood, este faroeste de Arthur Penn retrata com ironia e inteligência o período mais cruel da história dos EUA. Exibição em Blu-ray.

Quando Explode a Vingança (Giù La Testa), de Sergio Leone (Itália, 1971, 157 minutos)
Quando um terrorista irlandês (James Coburn), obcecado por dinamite, se junta a um camponês mexicano (Rod Steiger) que virou um revolucionário, os resultados só podem ser altamente explosivos! Ambientado durante a revolução mexicana de 1913, Quando Explode a Vingança (originalmente intitulado Duck, You Sucker!) é uma agitada história sobre poder e política dirigida por Sergio Leone, o celebrado diretor de Três Homens em Conflito e de Era uma Vez na América. Exibição em DVD.

Jogos e Trapaças – Quando os Homens São Homens (McCabe & Mrs. Miller), de Robert Altman (EUA, 1971, 120 minutos)
Presbyterian Church é uma pequena cidade no extremo oeste dos Estados Unidos, o lugar perfeito para o carismático mas fracassado jogador, John Q. McCabe, começar seu próprio negócio: construir um bordel. Constance Miller é uma mulher da cidade grande que utiliza seus dons para ajudar McCabe a realizar seu sonho. Uma das grandes obras-primas de Robert Altman, o filme apresenta as estrelas Warren Beatty e Julie Christie, indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 1971 por este trabalho. Exibição em DVD.

GRADE DE HORÁRIOS
Primeira Semana (2 a 7 de julho de 2013)
2 de julho (terça-feira)
15:00 – Vera Cruz, de Robert Aldrich
17:00 – Crepúsculo de uma Raça, de John Ford
20:00 – Exibição do curta Sincronário

3 de julho (quarta-feira)
15:00 – Céu Amarelo, de William A. Wellman
17:00 – Os Profissionais, de Richard Brooks
19:00 – El Topo, de Alejandro Jodorowsky

4 de julho (quinta-feira)
15:00 – Vamos Matar, Companheiros!, de Sergio Corbucci
17:00 – Viva Zapata!, de Elia Kazan
19:00 – Quando Explode a Vingança, de Sergio Leone

5 de julho (sexta-feira)
15:00 – Os Profissionais, de Richard Brooks
17:00 – Vera Cruz, de Robert Aldrich
19:00 – Crepúsculo de uma Raça, de John Ford

6 de julho (sábado)
15:00 – Viva Zapata!, de Elia Kazan
17:00 – Céu Amarelo, de William A. Wellman
19:00 – El Topo, de Alejandro Jodorowsky

7 de julho (domingo)
15:00 – Vamos Matar, Companheiros!, de Sergio Corbucci
17:00 – Os Profissionais, de Richard Brooks
19:00 – Quando Explode a Vingança, de Sergio Leone

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ZINEMATÓGRAFO #3

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Em meio aos gritos de insatisfação, ao caos e aos conflitos ideológicos que se chocam nas ruas de Porto Alegre, também corre solta a terceira edição do Zinematógrafo.

EDITORIAL

“A cidade está empolgante enquanto movimentos articulam focos de resistência aos positivistas-cientificistas-conservadores que buscam pautar a cidade.

A depredação estética de Porto Alegre é fruto também da ignorância dos que a “pensam” e planejam. Não é só questão de interesses financeiros, mas também de analfabetismo estético. Aí é que está. Quando os responsáveis não sabem ir além do conceito pronto do que sejam coisas belas e como elas interagem imaterialmente com os populares, eles não são capazes de pensar os movimentos, a transitoriedade, os fluxos, as relações, as revoltas, os trânsitos, os sexos, os corpos. Eles não governam: extinguem. Qualquer espontaneidade é então desestruturada, a ferro ou a fogo. É esse o encadeamento de subjetividades que faz com que a ideia de uma cidade mais branca, concentrada e em marcha se estabeleça como uma visão honesta e bem calculada do progresso. Assim, fica fácil endurecer o discurso punitivista “quando o pedestre atravessa fora da faixa”. Cadeia. Bomba de efeito moral. Cavalo e pancada.

Engraçado é que, em um filme como Depois de Maio, em que as aspirações de uma juventude pós-1968 se “encontram desencontradas e se encontrando”, coisas semelhantes acontecem – claro, com todas suas diferenças. Em Porto Alegre, esses movimentos também estão tateando uma potência não numa unidade, mas na desestruturação do pensamento e da prática dos confortáveis. É outro jogo, mas jogo de sangue que corre, que pulsa.

E vem aí um filme sobre Hannah Arendt, dirigido pela Margarethe von Trotta, que já fez um bom filme sobre Rosa Luxemburgo. Ela pensou a ação política com firmeza e disse que “o indivíduo em seu isolamento jamais é livre; só pode sê-lo quando adentra o solo da polis e age nele”. Tem tudo a ver. Esperamos que o filme venha para os cinemas de Porto Alegre, aproveitando que a cidade vive esse momento politicamente importante.

Num dos dias de maio, esse mês louco que sempre parece durar uns cem dias de tanta coisa que acontece, um senhor octogenário apareceu feliz da vida no cinema – tinha acabado de ver um faroeste – e começou a falar do Shane:

exibi uma cópia em 16mm nos anos 1950, num cineclube que criei no Colégio Jesuíta em Santa Catarina, onde dava aulas de história. Os padres não gostavam, alguns filmes eu passava escondido, mas as crianças ficavam loucas com aquilo e, você vê, um das crianças era o Rogério Sganzerla.

O senhor – o cinéfilo apaixonado chamado Décio Andriotti – deu um sorriso safado e emendou: a gente faz as coisas e nunca sabe o que vai dar.

Essa frase traduz um pouco o que está acontecendo na cidade – quando as pessoas estão nas ruas, o que incomoda é que elas fazem coisas e nunca se sabe o que vai dar. Por isso, neste momento, enquanto a direita tenta engolir a rebelião com seus olhos gordos, é fundamental assumirmos as incertezas, assumirmos a inutilidade, assumirmos sem medo que a causa realmente não custa mais do que vinte centavos. Ela custa, na verdade, bem menos: dezenove, quinze, dez, até chegar a zero. Quanto menos motivos para incendiar a cidade, mais ela vai pegar fogo. E precisa.”

Colaboradores dessa edição: Daiane Marcon, Daniel de Bem, Débora Luz, Cristian Verardi, Gabriella Gasperin, Lennon Macedo, Leonrado Bomfim, Luciano Viegas, Nathália Rech, Paulo Casa Nova, Pedro Henrique Gomes, Priscila Pasko, Ranieri Brandão

* O Zinematógrafo tem distribuição gratuíta e pode ser encontrado flutuando pelas ruas, atualmente incendiárias, de Porto Alegre / Contato: zinematografo@gmail.com

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COM A PALAVRA… VLADIMIR MAIAKOVSKI!

Vladimir Maiakovski 1896-1930

Vladimir Maiakovski 1896-1930

“Para vocês o cinema é um espetáculo.
Para mim, é quase uma concepção do mundo.
O cinema é o veículo do movimento.
O cinema é o renovador da literatura.
O cinema é o destruidor da estética.
O cinema é intrepidez.
O cinema é esportivo.
O cinema é difusor de idéias.
Mas o cinema está doente. O capitalismo atirou pó dourado em seus olhos. 
Hábeis empresários o conduzem pela mão nas ruas. 
Ganham dinheiro comovendo corações com intrigas chorosas. Isso precisa acabar.”

(Vladimir Maiakovski- Kino-Phot. Agosto de 1922)

 

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EXPLOITATION DOUBLE FEATURE: PROJETO RAROS ESPECIAL CEMITÉRIO MALDITO DOS FILMES B & FESTA BATÔ.

Nesta sexta-feira (07 de junho), 20h, a Sala P.F. Gastal será incendiada pelo erotismo anárquico de Russ Meyer, e pelo lançamento do livro Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation. Após a sessão os maníacos de plantão estão convidados a exercitarem suas psicoses e suas melhores perversões na festa BATÔ: 
“A festa barco atraca no Clube Silêncio. A Batô, a nave cabaret retrô intinerante, chega com sua mistura de música, cinema e magia. Nas montagens cinepsicodélicas de Lufe Bolini, na eletro cumbia’n roll de Rafa Rodrigues, Rafa Ferretti e Marcos Kligman, e na musa batô da vez: Mary O, que com seus Pink Flamingos promete destilar o melhor da surf music from hell, que faria Tarantino corar as bochechas.
A festa encontra no Clube Silêncio o clima perfeito entre cinema e o burlesco, e promete colocar toda sua tripulação à bailar no melhor clima “inferninho underground”!

Quem comparecer a sessão do Projeto Raros entrará automaticamente na lista amiga desta festa ideal para cultivar sua demência!
http://www.facebook.com/events/466205106797792/?fref=ts

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PROJETO RAROS ESPECIAL CEMITÉRIO PERDIDO DOS FILMES B: EXPLOITATION- UP! O EROTISMO ANÁRQUICO DE RUSS MEYER

Sexta-feira (7 de junho) às 20h, o Projeto Raros da Sala P.F.Gastal (3° andar da Usina do Gasômetro) faz o lançamento do livro Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation, seguido da exibição de UP!, de Russ Meyer. Após a sessão debate comigo e com os parceiros do crime, os também autores Cesar Almeida, Carlos Thomaz Albornoz e Marco A. Freitas . Entrada Franca. (Censura 18 anos).

UP!

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Existe algo de anárquico na obra de Russ Meyer que eleva seu cinema além do erotismo fácil da exploração gratuíta dos corpos. Na epiderme de seu trabalho corre um humor libertário, impregnado de violência, um deboche acurado que desestabiliza costumes e regras morais através de uma narrativa caótica que por vezes beira o nonsense. A profusão de corpos nus, de mulheres opulentas e homens priaprícos, serve como arma para desnudar desejos e perversões de uma sociedade castradora e hipócrita. A América de Russ Meyer clama secretamente por um gozo alucinante. “Nada é obsceno desde que seja feito com mau gosto”, costumava dizer um provocatico Meyer.

Um dos últimos trabalhos de sua carreira como diretor, Up! é uma obra crepuscular que somatiza características peculiares ao estilo de Meyer; para ele o sexo era um elemento superlativo. Mulheres de seios monumentais, homens brutos e apalermados ostentando ereções monstruosas, êxtase sexual constante, violência gráfica de tons cartunescos, up02tudo isso costurado por uma narrativa amalucada em prol da provocação e do deboche das convenções sociais e dos tabus sexuais.O olhar apurado de Meyer, que foi um notório fotógrafo da revista Playboy durante os anos 1950, capta planos inusitados, sempre valorizando os fartos seios de suas atrizes,  enquanto realiza com furor sequências de humor, violência e erotismo. Kitten Natividad, uma de suas atrizes fetiche, funciona como um coro grego para narrar a estranha trama whodunit que se desenrola em meio a maratona sexual promovida pelas personagens de Up!. Quem matou Adolf  Schwartz? Um Hitler genérico adepto de práticas masoquistas que é castrado por um peixe colocado criminosamente em sua banheira. Esse enigma pouco interessa às personagens, que preferem se dedicar a incessantes e divertidas aventuras sexuais invés de se preocupar com o assassinato. Enquanto Paul (Robert McLane) e Sweet Lil Alice (Janet Wood) gozam bucolicamente em meio aos campos, Margo Winchester (Raven De La Croix), a garçonete local, enlouquece os homens transformando-os em verdadeiros predadores sexuais, e o xerife Homer Johnson (Monty Bane), despreocupado com o crime, prega a lei a sua maneira, utilizando mais seu pênis do que sua arma.

A cena de abertura com Adolf  Schwartz sendo alegremente sodomizado por um membro descomunal e submetido a sessões de sadomasoquismo, é uma verdadeira zoação de ImagemRuss Meyer (ex-combatente e fotógrafo da 2° Guerra Mundial), não apenas com a figura histórica de Hitler, mas com todas as autoridades morais que impestam nossa sociedade pregando de forma ditatorial éticas sexuais hipocritamente castradoras. A sequência histérica, onde um lenhador brutamontes de apetite sexual descontrolado tenta violentar Margo Winchester, culminando num hilário banho de sangue após uma luta envolvendo  machados e uma motoserra, é um exemplo da insanidade narrativa de Meyer, que mescla habilmente os gêneros, indo prontamente do erotismo ao mais puro grand guignol.

Carl Jung disse que “o cinema torna possível experimentar sem perigo, toda a excitação, paixão e desejo que deve ser reprimida numa humanitária ordem de vida”, e o erotismo libertário e provocador  proposto pelo cinema de Meyer tende a corroborar essa afirmação, tendo o sexo e o humor como as mais poderosas armas de subversão.

(texto originalmente publicado no livro Cemitério Perdido dos Filmes B: Exploitation)

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